Ele tem um jeito meio maluco, anda igual um esquilo, chega a ser engraçado. Seus cabelos morenos escuros feitos perfeitamente em um moicano usado desde seus nove anos de idade brilhavam ao atravessar aquele raio de sol. Estava lá, com seus amigos, se sentia como todas as outras vezes, o centro das atenções. Era um babaca, meu babaca. Ele sorria lindamente, parecia até propaganda de pasta de dente. Dava gargalhadas, aquelas bem gostosas de ouvir. Eu ficava de longe apreciando-o, confesso que parecia uma obcecada maníaca olhando-o. Se virou rapidamente e seu olhar em direção ao meu sobressaltou. Tentei disfarçar mas ele não era idiota o bastante ao ponto de não perceber que o encarava, ou talvez seria, mas não dessa vez. Em quanto tentava achar uma saída em meus pensamentos, woops, vi uma sombra na minha frente, não precisei olhar para cima para saber que era ele. “Porque estava me olhando?” Levantou uma sobrancelha fazendo uma expressão de “eu sou o cara”. “O que? Não estava te olhando…” Sobressaltei o “o que” de um modo que desse para perceber que estava tentando dar uma desculpa. Burra eu, nem capaz de falar algo que preste eu sou. Continuei ali, parada sentada no meio fio olhando pro chão. “Para né, você estava me encarando parecendo uma maníaca com esse seus… olhos” Fez uma pausa ao dizer “olhos” e se abaixou ficando em minha frente. “O que houve com a gente?” Meu coração acelerou completamente, me senti dentro de um carro de corrida, levantei a cabeça levemente tentando mostrar que não estava surpresa e simplesmente soltei “E te importa?” Me levantei rápido tentando acreditar no que havia falado, nunca havia feito e falado algo do tipo, para mim naquele momento eu estava no comando até sentir uma mão macia segurando meu braço e uma voz baixa “Espera, por favor” Fiquei parada, não me movi nem me virei, abaixei a cabeça para que minhas lágrimas pudessem se segurar e não caírem. Em alguns instantes vi aquela sombra que já estava me amedrontando na minha frente novamente. Senti seu toque em meu queixo fazendo meu rosto de levantar devagar. Desviava o olhar para não ter que ver aquele rosto que me encantava cada dia mais. Consegui me acalmar, não sei como, mas consegui. Senti ele segurando minhas mão e entrelaçando seus dedos com os meus. “O que está tentando fazer?” Falei com um tom arrogante e puxando minha mão para que soltasse da dele. “Eu to arrependido, ta legal? Eu sou um idiota, aquele que sempre te deu bolo as 10 horas da manhã naquela esquininha iluminada pelos raios de sol, um covarde que de 90% das chances de ficar com qualquer garota apenas pensava em você, em como queria que fosse você no lugar delas” Confesso que nunca pensei que aquele estúpido pudesse falar palavras tão bonitas que soavam dentro de mim como o som do piano de Beethoven. Olhei para aqueles olhos incrivelmente brilhantes e soltei uma risada sarcástica. “Você está de brincadeira comigo, não é? Depois que tudo que fez, na verdade, de fizemos, você vem e me diz isso? Depois de um ano a sua espera? Me poupe…” Falei como se estivesse tirando trocentos tijolos das minhas costas, era um alívio. Parecia tão forte e segura do que queria, mas, não. Segura? Hahaha, nem sei mais o que é isso, eu estava com medo, com muito medo. Medo de falar bobagem e ele se virar e continuar seguindo seu caminho. Voltar para seus amigos e fingir que nada daquilo aconteceu e simplesmente falar “Trombei com ela, apenas isso”. Senti o calor do corpo dele ao se aproximar de mim. Não sentia mais nada, parecia loucura aquela cena. “Você está certa, eu errei, deixei você ir por idiotices e nem sequer tentei fazê-la ficar. Eu errei, confesso. E sei também que não me perdoará mas mesmo assim preciso dizer… Eu amo você.” Senti meu mundo desmoronando, não estava entendendo mais nada. Aquele “eu te amo” tão esperado por um longo ano com 365 dias. Não queria ver minha cara, parecia uma idiota com olhos arregalados e tremendo feito uma idiota. “Eu sinto a sua falta e estou aqui porque preciso de você.” Juro que eu achei que fosse algum gêmeo dele no lugar porque pra dizer aquilo… “Para com isso, por favor. Eu sei bem que está fazendo isso pra… sei lá, provar ao seus amigos que me tem quando quer, mas está enganado, por mais que eu queira te abraçar e sentir seus lábios novamente neste exato momento, não vou fazer nada, porque além do mais, eu já fiz muito por você, por nós. E me desculpa por estar aqui te olhando, besteira minha, você está lá, mais uma vez o centro das atenções né!? Volte, seus amigos estão a sua espera, eu vou seguir a minha vida, como sempre tem sido…” Coloquei minhas mãos no rosto dele acariciando do jeito que ele gostava e apenas três palavras soaram levemente da minha boca. “Eu sinto muito…” Me virei e segui, mais uma vez sem ele. Talvez não era pra ser, ou era, mas estava no momento errado. Não quis olhar para trás porque sabia que se visse a sombra dele desistiria de tudo o que havia falado e correria aos braços magricelos dele dizendo que o amava. Mas não, continuei seguindo em frente deixando rolar aquelas últimas lágrimas. Estava doendo, mas passa… Tudo passa. Ele na dele e eu na minha, sempre assim, sempre longe um do outro.
Renata Teixeira (doce-insana)